Do outro lado

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Estamos em uma época em que é fácil ter opiniões fortes e expressá – las, aliás, nunca se deu tanta opinião quanto agora, é fácil, nas redes sociais somos estimulados a dizer o que estamos pensando, o tempo todo, sobre qualquer assunto, e descobrir rápido quem concorda e quem não concorda conosco.

O problema é, embora sejamos estimulados a dizer o que pensamos sempre, não estamos preparados para ouvir a opinião do outro. Cada vez mais cria – se uma cultura de que quem não concorda comigo é meu inimigo. Não existe mais o debater, existe apenas o gritar e o não ouvir.
Não cabe aqui entrar nas posições políticas e nos valores de vida de cada um.

Nem acho que deveríamos manter por perto alguém que faça ou diga coisas que nos ofendam e machuquem só pra mostrar como somos abertos. Não é um martírio. Eu só me pergunto o quanto estamos prontos pra ouvir o diferente. Conversar, debater, é um dos presentes da vida, é o que nos faz crescer, abre as nossas ideias, amplia os horizontes. Nos fechando em um quadradinho onde todos concordam conosco podemos perder tudo isso.

O grande problema é que nosso maior meio de diálogo hoje em dia são as redes sociais e nas redes sociais, não há tempo para o debate mais profundo. Condensamos os pensamentos em frases rápidas, memes, imagens e likes. Se não dá tempo de ler o texto todo (e quem tem paciência pros “textões” dos outros) ficamos só com o título e o primeiro parágrafo, no máximo. Há muito espaço para o mal entendido e infelizmente, para a ofensa.

Estamos esquecendo que existe alguém do outro lado da tela e principalmente, que esse alguém também tem sentimentos, dores, valor. Estamos esquecendo o poder que nossas palavras tem de machucar e estamos colocando em risco as nossas relações reais. Pelo quê? Pela vontade de ter razão?

É muito perigoso pensar que o outro é meu inimigo. É muito sedutor também. Simplifica a vida ao nos dar uma licença pra não conviver com o diferente. “Eles” estão errados e são maus, eu estou certa e sou boa. Ficamos protegidos assim, nos sentimos seguros. E perdemos muito.
Quando foi que perdemos de vista a capacidade de nos colocar no lugar do outro?

Eu ando vendo tantas manifestações de ódio entre pessoas queridas. Simplesmente porque uma tem uma posição diferente da outra. Isso é mesmo necessário? Se é impossível dialogar será mesmo necessário ofender? Machucar apenas pra “ganhar” uma discussão. No mundo virtual é muito simples, desliga – se o computador e pronto. E as relações reais?

Não perca de vista a pessoa do outro lado da tela, principalmente quando é alguém que você ama. Não há derrota em admitir que às vezes simplesmente precisamos concordar em discordar. Não precisa haver vencidos e vencedores.

Viver é muito mais do que uma discussão no Facebook. E amizade não é concordância eterna. Talvez ouvir o outro não vá mudar a sua forma de pensar, talvez não mude a opinião de quem te escuta, mas é um aprendizado. Respeito, cordialidade, a capacidade expor as opiniões sem machuca, de argumentar sem atacar e principalmente empatia. O mundo precisa de empatia. Ou acabaremos todos gritando para o vazio.

porteu Carolina de Biagi é consultora de estilo e formada em organização de casamentos pelo SENAC. Além de escrever pro blog O Pedido, ela também escreve sobre estilo, moda e auto – estima no blog Um Unicórnio Fashionista. (www.umunicorniofashionista.wordpress.com) e no Volta, Carolina ( www.voltacarolina.wordpress.com)