Escrevi a minha primeira carta de amor aos oito anos. Vocês não vão acreditar, mas era bem elaborada, cheia de palavras complicadas e altamente melosa. Nunca tive coragem de entregar e ela se perdeu entre caixas, cadernos e mudanças.
Quando adolescente eu escrevi muitas, muitas cartas de amor. Nem todas inspiradas pelas minhas próprias paixões, acabei virando acidentalmente uma escritora de “aluguel” e escrevia cartas de amor pra amigas, amigos e colegas de sala. Eles me contavam a história, a intensidade dos sentimentos e lá ia eu tentar transformar tudo aquilo em carta. Era bom ver minhas palavras ajudando os outros, se eu não tinha coragem de entregar as cartas que escrevia pro menino que eu gostava, pelo menos outros casais iam se formando. Eu derramava nas palavras para os outros a vontade que tinha de um dia receber uma carta daquelas. O amor que sempre me alimentava era o amor pelas palavras.
Eu adoro cartas. Recebi e escrevi algumas, quando morava em outro estado, e era uma delícia esperar ansiosa pelo carteiro e depois ter a resposta tão esperada. Ler e reler as páginas enviadas pelos amigos e guardar as cartas como um tesouro. Também eram de amor aqueles pequenos lembretes de amizade.
Finalmente recebi cartas de amor, mas o tempo se colocou no meio e os bilhetes carinhosos foram escasseando. Guardo todos com carinho de qualquer modo.
Hoje temos muita facilidade pra nos comunicar mas somos também muito sucintos, muito rápidos. Um e – mail, por mais bonito, não tem o mesmo romantismo, lamento. Tão gostoso ficar contemplando a letra do ser amado, como se fosse um pedacinho dele que agora nos pertence… Me parece mais definitivo também, mais trabalhoso. Sinto enorme falta das cartas de amor. O mais engraçado é que pareço uma senhorinha saudosista dizendo isso.
Com 33 anos, reconheço a maravilha da tecnologia, mas sinto falta desse lado artesanal, quase singelo, de uma carta de amor. Sim, diz Fernando Pessoa que elas são sempre ridículas, e eu concordo. Mas é o ridículo, as palavras derramadas, até o certo exagero das declarações que dá todo o charme. Tem algo de mágico saber que alguém parou e escreveu, no meio de tantas facilidades, uma carta de amor á moda antiga, esperando ansiosamente o momento de entregar e ver o seu sorriso se abrindo em meio a leitura. Me perdoem e – mails e mensagens de Whats, vocês nunca terão esse efeito.
Escrevam cartas de amor. Não importa que a letra não seja tão bonita ou que você tenha que copiar um poema de outra pessoa (mas aí, seja honesto, dê a fonte e diga que copiou por lembrar da pessoa amada sempre que lê), sempre digo que romantismo se faz com coisas simples e um pouco de atenção, então aproveite. Mande a carta pelo correio ou entregue no próximo encontro. Você vai descobrir a mágica de um pedaço de papel e um pouco de tinta quando combinados a um sentimento que transborda. Algumas palavras e um pedacinho do coração.
Carolina de Biagi é consultora de estilo e formada em organização de casamentos pelo SENAC. Além de escrever pro blog O Pedido, ela também escreve sobre estilo, moda e auto – estima no blog Um Unicórnio Fashionista. (www.umunicorniofashionista.wordpress.com) e no Volta, Carolina ( www.voltacarolina.wordpress.com)