Jogar pra ganhar o quê?

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Ando vendo pela Internet muitos posts e desabafos reclamando dos “joguinhos” em relacionamentos. Principalmente essa indiferença que parece ter se tornado norma demonstrar. Vejo também muita gente reclamando que não consegue encontrar alguém que queira se relacionar de verdade, que tudo anda muito superficial e nada tem continuidade ou mesmo importância.

Somos trouxas quando demonstramos nossos sentimentos. De repente sentir virou fraqueza. E não estou falando que sentir é planejar o casamento e escolher a casa durante o primeiro encontro, ou grudar terrivelmente em qualquer pessoa que te dê um pouco de atenção, ou mesmo desrespeitar o espaço e o tempo do outros. Falo do desrespeito deliberado, de estabelecer um monte de “regrinhas” pra parecer forte, insensível, indisponível, tentando ganhar uma guerrinha não declarada oficialmente entre pessoas que poderiam estar aproveitando o tempo de forma muito melhor, do querer tanto alguém ao lado e ao mesmo tempo não ceder espaço nenhum.

Pra mim não faz nenhum sentido resolver se fazer de “difícil” de forma birrenta, como se de repente fôssemos todas crianças irritadas. Não faz sentido sufocar a vontade de ver quem se gosta, ignorar a mensagem que chega, passar o fim de semana sozinho pra não dar o braço a torcer. E depois não entender quando o outro simplesmente some.

Esses jogos todos me parecem ainda mais absurdos quando penso que não há ganho. Então você conseguiu, demonstrou menos, o “trouxa” foi o outro que “correu atrás” . Aparentemente você está no controle. E assim vai destruindo possibilidades, vivendo coisas que não se aprofundam, não aquecem, não se definem. Quando dá errado, porque o outro se cansa de tentar sozinho, você repete pra si mesmo que estava certo, que é isso aí mesmo, ainda bem que você nem tentou porque, olha lá, não vale a pena. E assim vai colecionando cicatrizes. E se enchendo de medo.

Medo, essa é a chave do enigma. Em algum momento nos machucamos, em algum momento, fomos o “trouxa” que demonstrou demais e não recebeu nada. Aí endurecemos. Prometemos pra nós mesmos que não vamos mais nos machucar, deixamos o medo tomar o controle e vamos erguendo barreiras. No fim, o vazio continua e não entendemos porquê.O medo vai nos roubando as histórias que poderíamos viver.

Será que não seria mais fácil entender que riscos e cicatrizes fazem parte quando se quer viver algo real? Parar de sufocar o carinho e o desejo nessa disputa de vontades que só causa frustração? Se tem tanta gente se sentindo sozinha e querendo amar, tanta gente que reclama desses jogos, por que eles continuam acontecendo? Quem afinal são as pessoas que criaram essas regras e pra quem elas funcionam? E se elas não funcionam pra ninguém, porque estamos todos frustrados, será que não é a hora de mudar as regras? Ou pelo menos a estratégia?

Eu admito que não sei jogar e me machuco bastante com isso sim. E quando isso acontece, a vontade é mesmo se fechar e endurecer. Também já disse e repito que é preciso saber se retirar da relação quando você apenas recebe migalhas de sentimento, por mais difícil que seja, mas não entendo essa mania de não demonstrar, não acariciar, fingir não querer. Responde a mensagem que chegou se você tem vontade. Liga no dia seguinte. Chama pra sair. Muito melhor do que ficar sempre engasgado com o desejo que não se permite viver, só pra ganhar um troféu imaginário e no fim acabar com nada. Nem mesmo uma medalha na parede.

porteuCarolina de Biagi é consultora de estilo e formada em organização de casamentos pelo SENAC. Além de escrever pro blog O Pedido, ela também escreve sobre estilo, moda e auto – estima no blog Um Unicórnio Fashionista. (www.umunicorniofashionista.wordpress.com) e no Volta, Carolina ( www.voltacarolina.wordpress.com)